Dia 22 de março é comemorado em todo o mundo o Dia da Água. Eventos são realizados, palestras feitas e estatísticas mostradas. Mas e de concreto o que fica? Muito se fala nos problemas que teremos no futuro, onde a água será o líquido mais precioso e caro do planeta, por conta de sua escassez e, obviamente, por ser ela uma substância essencial à vida. Porém, já hoje começamos a sentir sua real importância. Ao todo, mais de um bilhão de pessoas no mundo já sofrem com os problemas relacionados com a falta d’agua, totalizando aproximadamente um sexto da população mundial. Esse número continuará a crescer se nada for feito. Nossos filhos herdarão um mundo de recursos escassos, indo contra à definição de “sustentabilidade” feita pela Organização das Nações Unidas – ONU: “ (sustentabilidade) é acapacidade de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer as necessidades das futuras gerações.”
Durante muito tempo o homem tratou os recursos naturais como infinitos. Embora a água não acabe – a quantidade de água que temos hoje é a mesma desde a época dos dinossauros – menos de 1% da água do planeta é doce. Desse percentual, subtraia a água desperdiçada e a crescente poluição e contaminação. Muito bem, esse é o que efetivamente temos de água própria para consumo. Em cidades como Sorocaba, no interior de São Paulo, a água desperdiçada já na distribuição por vazamentos nas redes é de 45% e, acredite, esses dados são comemorados. Em alguns lugares, este número pode ultrapassar absurdos 70%. Na maioria dos municípios brasileiros, o valor pago na conta d’água é pela sua captação, armazenamento, tratamento e distribuição. O recurso “água”, propriamente dito, não é cobrado. Em agosto de 2010 começou a cobrança pelo recurso nas 35 cidades que compõem a região do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sorocaba e Médio Tietê, no interior de São Paulo. A medida visa à racionalização do recurso – ou seja, o seu uso racional. Espero com isso não ter de ouvir novamente minha vizinha que lava o chão com mangueira dizer: áh, mas sempre vem o mesmo valor!Vivemos numa época onde o conhecimento e os valores que damos as coisas têm de ser revistos. É inacreditável ainda hoje ter essa gente estúpida que não faz nem o mínimo. Isso é o básico do básico da civilidade e bom senso.

Uma curiosidade que sempre me vem à mente quando se fala em água: você sabe a origem da palavra “salário”? O termo tem origem no latim “salarium argentum”, “pagamento em sal” – forma primária de pagamento oferecida aos soldados do Império Romano. O sal era uma iguaria refinada, de difícil acesso, usada para conservar e realçar o sabor dos alimentos. É um recurso que podemos, muito bem, viver sem. E ainda assim trabalhadores aceitavam ter seu pagamento em sal. Agora sem água, padecemos em poucos dias. Imagina o que podem fazer os que terão o controle sobre esse recurso essencial a vida, que deve ser um bem de uso comum do povo? Por isso, reveja seus conceitos. Não apenas no dia da água. Tenha isso de forma consciente nessa cabecinha que não serve apenas para embelezar. Bonita por bonita, até uma bexiga colorida e vazia é. Vamos regar a consciência diariamente e em abundância. Essa sim sem medo de desperdiçar.
JP Rodrigues é Gestor e Educador Ambiental em Sorocaba
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