Um estudo biológico comprovou que um sapo, que vive numa determinada lagoa, pode suportar o aumento gradativo da temperatura da água até um limite muito além do seu clima natural. Surpreendentemente, enquanto a água se aquece, o sapo permanece tranquilamente relaxado ao passo que seu corpo vai se adaptando as mudanças da temperatura da lagoa. Ele não percebe o aquecimento da água, até chegar o momento em que ele, simplesmente, morre cozido.
Em contrapartida, se a água estiver nesta mesma temperatura e o sapo for colocado bruscamente em contato com ela, saltará imediatamente para fora, visto que o seu corpo não teve tempo de se adaptar as mudanças do clima.
Já usei este exemplo em diversas aulas e palestras, com o intuito de fazer um paradoxo com o mundo atual.
A Organização das Nações Unidas – ONU – divulgou um extenso relatório em 2007 sobre o Aquecimento Global. Consta que a temperatura média da terra deverá subir aproximadamente 3Cº nas próximas décadas devido à alta emissão dos gases responsáveis pelo efeito estufa.
Alguns cientistas dizem não acreditar no Aquecimento Global. Alegam que a Terra passa por vários ciclos de aquecimento e resfriamento em períodos específicos. É verdade. Mas isentar o homem e suas ações perniciosas em busca do desenvolvimento e consumo desenfreado é de uma tremenda estupidez.
Não há como discordar de que as cidades estão cada vez mais quentes, abafadas e beirando o insuportável. O calor é claustrofóbico, angustiante. Pessoas reclamam de dores de cabeça e fadiga constantes. Idosos e crianças principalmente. Você acaba de sair do banho e já está soando novamente! Guarda-chuvas são promovidos às pressas guarda-sóis.
Assim como o sapo do estudo, a impressão que tenho é a de que estamos vivendo dentro de um recipiente que está, vagarosamente, se aquecendo. E nós, também como o citado anfíbio, sem perceber, estamos nos adaptando a essa mudança. Se no verão passado usamos protetor solar fator quinze, esse ano foi o trinta. Ano que vem o quarenta e cinco, depois o sessenta e assim sucessivamente.
Por outro lado, estudos comprovam que em centros urbanos arborizados o clima diminui em até 4Cº. Ao caminhar sobre a sombra de uma árvore, as folhas formam uma camada natural protetora contra o material particulado e raios solares. Além, obviamente, de proporcionar frescor, reciclar o oxigênio e melhorar a umidade do ar. Mas onde estão as árvores das cidades? Cada vez mais raras. Pessoas mandam cortar árvores porque “fazem muita sujeira”. O Poder Público não colabora para transformar esta realidade. Abatem diversas árvores para construções, fazendo a compensação ambiental. Agem dentro da lei. Alegam que “esse é o preço do progresso”. Mas há alternativas sustentáveis, basta força de vontade política e vergonha na cara. Vejo bancos e mais bancos vazios em praças ao meio dia. É impossível sentar e descansar. Não há preocupação com o munícipe trabalhador.
Charles Darwin, famoso naturalista e criador da Teoria da Evolução, disse certa vez que “não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente. Mas o que melhor se adapta as mudanças”.
Sendo assim, continuemos em nosso processo de evolução. Mas ao invés de limitar somente as mudanças em nosso corpo, que tal pensarmos também em evoluir nossas ideias, caráter e bom senso?
João Paulo Rodrigues é Gestor Ambiental,
Educador e Jornalista – Mtb 0065988/SP