A partir do instante em que o ser humano aprendeu as propriedades do átomo, no início da década de 40, a sociedade tem se confrontado com os perigos e benefícios desta descoberta. Uma delas, a energia nuclear, consiste no uso controlado das reações nucleares para a obtenção de energia para realizar movimento, calor e eletricidade. É usada em cerca de 440 centrais nucleares em todo o mundo e responsável por aproximadamente 17% da energia elétrica gerada no planeta. No Brasil as usinas Angra 1 e 2 produzem menos de 2% da energia gerada em todo o País. Mas o governo pretende aumentar esse percentual colocando em operação até 2015 a Angra 3 e construindo mais 4 usinas até 2030.
Pelo menos estes eram os planos antes do terremoto e tsunami que devastaram o nordeste do Japão no dia 11 de março. Outros países que também têm em seus planos aumentar a participação da energia nuclear estão revendo essa possibilidade. O governo brasileiro, aparentemente, não se abalou com a catástrofe e mantêm o cronograma. Mas a tragédia, sem dúvida, colocou a humanidade em xeque. A idéia de que temos o controle da situação foi desestabilizada pelas cenas dantescas daquele navio no meio da pista, daquela sopa de carros e casas, daquele cenário como se tivéssemos jogado água num formigueiro. Aquilo nos forçou a enxergar nossa impotência diante do poder devastador da natureza.

O Japão optou pela energia nuclear pela falta de opção e proximidade ao mar, que é estratégico para poder resfriar os geradores, veja você que sinuca de bico. Já o nosso Brasil varonil é o lugar onde mais tem sol e vento no mundo, duas alternativas interessantes de energia. Mas também estas têm seus problemas: a construção das pás eólicas e dos geradores de energia solar é cara e geram um passivo ambiental grande.
A energia nuclear tem algumas vantagens: o combustível é barato, o resíduo é compacto e nenhum efeito estufa ou chuva ácida. As desvantagens é que é a fonte de maior custo por causa dos sistemas de emergência, de contenção e armazenamento, requer solução a longo prazo para os resíduos radioativos e tem a proliferação nuclear potencial.
Como não é possível destruir a radioatividade, a estratégia utilizada para gerenciar os rejeitos é o confinamento. O “lixo radioativo” gerado nas usinas é confinado em grande profundidade no solo, geralmente em minas de sal, até perder sua radioatividade, o que pode levar de 50 a 100 anos.
Será que o custo benefício é válido? Os riscos a vida são imensuráveis, podendo trazer consequências gravíssimas e irreversíveis a toda forma biológica no planeta.
A nossa tecnologia e conhecimento são importantes e necessários para vários avanços na melhoria da qualidade de vida. Mas ela gera também uma falsa sensação de poder, de que estamos seguros e no controle da situação.
E aí vem um acidente dessa magnitude para nos mostrar exatamente o contrário. Enquanto continuarmos com esta postura arrogante e prepotente frente às necessidades da natureza, continuaremos a pagar um alto preço.
A grande lição é reconhecermos a nossa impotência, decidindo cautelosamente os caminhos a seguir. Afinal, isso afeta também as futuras gerações. Sábios são os que aprendem com os erros dos outros e estúpidos são os que não aprendem nem com os próprios. E neste momento não há erros dos outros. Estão à mostra os erros de toda a humanidade.
JP Rodrigues é Gestor e Educador Ambiental em Sorocaba
Críticas, elogios e sugestões: joao.gestor.ambiental@gmail.com